Entidades conclamam sociedade brasileira para busca de
soluções pacíficas para a crise
Durante evento de assinatura da Conclamação ao Povo Brasileiro,
iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), realizada nesta
sexta-feira, 1º, com participação do Ministério da Justiça, da Procuradoria
Federal dos Direitos dos Cidadãos e do Instituto dos Advogados Brasileiros, o
bispo auxiliar de Brasília (DF) e secretário geral da Conferência, dom Leonardo
Ulrich Steiner, ressaltou a necessidade de diálogo nas diferenças de pensamento
e de respeito à pessoa humana. “Para nós que temos o Evangelho como livro de
vida, cada pessoa humana é um filho e uma filha de Deus. E ninguém pode agredir
um filho e uma filha de Deus, seja por meio da palavra ou de uma agressão
física”, declarou.
Dom Leonardo Steiner disse que a CNBB tomou a iniciativa de
buscar instituições e pessoas que ajudem na manifestação contrária à violência,
que está presente em um momento, considerado pelo prelado, “fecundo da
democracia”.
O documento, divulgado na manhã desta terça-feira, conclama
“todos os cidadãos e cidadãs, comunidades, partidos políticos e entidades da
sociedade civil organizada, a fazer sua parte e cooperar para este mesmo fim,
adotando, em suas manifestações, a busca permanente de soluções pacíficas e o
repúdio a qualquer forma de violência, convictos de que a força das ideias, na
história da humanidade, sempre foi mais bem sucedida do que as ideias de
força”.
“Temos voltado a discutir questões importantes do nosso Brasil,
questões constitucionais, a importância dos partidos e da
política. Nós temos visto manifestações de rua, o que pode contribuir muito
para a democracia brasileira, mas todas essas manifestações, às vezes, vêm
junto com uma determinada violência que nós não gostaríamos que impedisse a
democracia brasileira, a nossa jovem democracia brasileira”, disse o bispo.
A iniciativa da CNBB, segundo dom Leonardo, pretende apontar a
necessidade do diálogo, da convivência fraterna, de discussões realmente
frutíferas. "Que as diferenças sejam colocadas sobre a mesa para o bem do
Brasil e não haja, através de palavras e outros meios, uma agressão que a gente
sente um pouco crescente”, acrescentou.
As diferenças, na avaliação de dom Leonardo, são “salutares e
necessárias”. “Há sempre necessidade de oposição, mas ela jamais pode ser
violenta, jamais pode ser uma agressão à pessoa humana, porque a pessoa humana
tem uma dignidade incalculável”, afirmou, lembrando da filiação humana a Deus.
Alteridade
O ministro da Justiça, Eugênio Aragão, destacou em sua fala a
existência da democracia com o princípio de alteridade. “Isso significa que nós
consideramos os nossos interlocutores tão legitimados quanto nós ao tratar o
próximo do mesmo jeito que gostaríamos de ser tratados e fazer disso, como
disse Kant, uma regra universal de ética”, explicou. Aragão demonstrou preocupação
com o momento em que o país se encontra, com “sentimentos de raiva, às vezes
ódio que afloram por conta da divergência política, e não só política, mas
também por conta da intolerância a respeito de opções que as pessoas fazem para
suas vidas”. O ministro afirmou que a divergência não pode fazer de ninguém
inimigo, mas é legítima e necessária numa sociedade plural.
Redes Sociais
O procurador federal dos Direitos dos Cidadãos, Aurélio Veiga
dos Rios, ressaltou a luta contra os diversos tipos de intolerância realizada
pela Procuradoria. Aurélio salientou que o ato não tem nenhum cunho partidário,
governista ou anti-governista. “Estamos aqui, todos irmanados, seja governo,
sejam eventuais representantes da oposição, dos advogados, do Ministério
Público, enfim, das pessoas em geral, para fazer um alerta sobre os perigos da
intolerância, de não aceitarmos apenas atos de vandalismo, mas agressões
físicas e morais, especialmente aquelas feitas pelas redes sociais”, declarou.
O procurador contou que tem se assustado com a quantidade de
mensagens de ódio e de ressentimento que se passa dentro das redes na internet.
“E ela não só atinge a questão política, as eventuais divergências, mas ela
atinge, principalmente, categorias de pessoas e isso é absolutamente inaceitável”,
afirmou Aurélio, que lembrou das reflexões do papa Francisco sobre o perdão e a
necessidade de compreensão da alteridade.
Paz
O presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), Técio
Lins e Silva, afirmou que a iniciativa da CNBB deve “possibilitar que o país,
no momento de gravíssima crise, encontre caminhos para a pacificação nacional”.
O advogado destacou como resumo da conclamação a paz, a tolerância e a
compreensão.
Busca de apoios
De acordo com dom Leonardo Steiner, a CNBB continuará a procurar
mais entidades para que se manifestem a respeito da “necessidade do respeito
pela democracia, mas também o respeito nas discussões que a política exige e
pede”.
O bispo lembrou do encontro com o presidente do Supremo Tribunal Federal
(STF), Ricardo Lewandowski, na última terça-feira, 29 de março, quando
expressou a preocupação da Conferência com o momento político e social que o
país enfrenta, com “cenário de crescente intolerância se instalando no país,
com evidências de maior risco à liberdade de expressão e manifestação”. Naquela
ocasião, o secretário geral da CNBB adiantou a necessidade do empenho das
instituições e autoridades do país em medidas que levem à promoção da paz
social e evitem a produção de conflitos”.
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